abril 20, 2024 6:36 PM

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No sétimo ano do ginásio, tive uma professora de desenho geométrico que dava notas de zero a 10 pelo capricho no caderno. Nem todos eram contemplados. Ela escolhia uma das últimas aulas do bimestre, entrava na classe, observava durante alguns minutos e apontava aleatoriamente para cerca de 10 alunos.

Nunca fui excelente aluna na disciplina dela, apesar de colaborar com o aprendizado. Aliás, não tinha afinidade nenhuma com a professora em questão. Sempre antipática e com nariz em pé, a “dita cuja” nunca se apresentou amavelmente.

Naquele bimestre eu estava pendurada em desenho geométrico. No Dia D dos contemplados com a nota no caderno, eu olhei para ela e pensei que poderia ser uma das sortudas, até porque sempre fui muito organizada e caprichosa com livros, cadernos, lições e anotações. E ela me chamou. Ao me aproximar, a professora levantou o rosto, fixou meus olhos seriamente e disse:

“_ Você já sabia que seria chamada”.

Não perguntem como, mas meu coração sabia que sim. Tirei nota 10 e voltei ao meu lugar com o rabinho entre as pernas após levar uma chamada por estar mal de nota naquele bimestre.

A palavra intuição é derivada do latim “intueor”, que significa “ver”. Através dela a mente pode “ver” respostas para problemas ou decisões, por exemplo. Todas as pessoas são intuitivas? Sim, mas a maioria delas deixa os sentimentos e pensamentos de lado, e toma decisões com base no julgamento de certo e errado.

E como explicar os sinais dos sentimentos e das sensações? Os avisos?

Em 14 de fevereiro deste ano, como faço todo final de semana, fui caminhar na Av. Sumaré, na Zona Oeste da capital paulista. Entro na pista na metade, vou até a Av. Henrique Schalmann, desço até o Palmeiras e subo novamente, retornando ao meu ponto inicial. Aos 20 minutos de caminhada senti um aperto no coração. Foi incômodo, ruim e angustiante. Algo me dizia que eu teria que parar.

Há mais ou menos 20 anos, sempre que alguma coisa ruim está prestes a acontecer a alguém que sou muito ligada ou até mesmo comigo eu fico mal, da forma como descrevi. Interpretei a mensagem como “não continue”. Teimosa, ignorei o alerta e segui adiante.

Em alguns minutos, resolvi ouvir a minha intuição. Voltei. Quando parei no local exato em que comecei a me sentir mal, ouvi um estouro muito forte. Olhei para o lado e vi um rapaz no chão com uma moto coberta por fumaça. Por sorte, ele não foi atropelado pelos carros que trafegavam na movimentada avenida. A moto – uma Suzuki – havia explodido. Eu o levei ao hospital. Nunca mais tive notícia do moço, apesar de ter deixado um cartão com meus telefones nas mãos dele (foi pedido do rapaz). Desta vez, o meu sétimo sentido falou mais alto para alguém que nunca tinha visto na vida.

Segundo o livro “Bateau Mouche – Uma Tragédia Brasileira”, de Ivan Sant’Anna, a atriz Iara Amaral – uma das vítimas do naufrágio ocorrido no Réveillon de 1988 – estava melancólica pouco antes do Natal daquele ano. O ator Sérgio Brito a encontrou e relatou tal fato. Dias antes, Iara Amaral teria dito aos filhos que tinha medo do mar. Cada vez que olhava para a água ela ficava com a impressão de que um dia uma onda iria arrastá-la para longe. 

A Iara Amaral recebeu um aviso que algo aconteceria em um curto espaço de tempo, mas talvez ela não tenha percebido que se tratava de um pressentimento. A melancolia foi uma sensação muito mais associada à emoção do que à razão, e diretamente ligada à intuição.

Nem toda a intuição é igual. Podemos classificar três tipos:

– saber o que o outro sente, como se estivesse “lendo” a sua mente e o coração;

– a que vem da experiência, como a prática de simples ações na rotina do dia-a-dia;

– a que prevê o futuro – vem como avisos – a mais polêmica e temida.

Decisões motivadas pela intuição podem ser mais certeiras do que as provenientes da razão, por isso é importante manter a sintonia com ela.

Sintonia com a intuição

– Ouça a voz interior e seus instintos;

– Silêncio e solidão ajudam no contato com a sabedoria profunda (Eu interior);

– Treine a criatividade;

– Medite;

– Fortaleça o autoconhecimento;

– Treine sua percepção. Observe tudo e anote o que achar incomum num diário. Assim, você perceberá a frequência das coincidências e intuições corretas;

– Preste atenção nas mensagens enviadas através dos sonhos. Deixe um caderno na cabeceira da cama e, assim que acordar, anote todos os detalhes do sonho, inclusive e principalmente as sensações;

– Emoções negativas podem atrapalhar a intuição. O mesmo vale para a autoestima. Raiva e depressão desconectam o elo com a intuição;

– Ouça seu corpo. Aprenda os sinais. Sabe aquele frio na barriga quando algo está para acontecer? A melancolia da atriz Iara Amaral antes de morrer, relatada pelo colega Sérgio Brito? É isso…

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Paty PasquiniPatrícia Pasquini, jornalista, radialista, blogueira, palmeirense, aquariana, apimentada, filha, irmã, tia, prima. Escreve quinzenalmente, às quintas, para o Portal Vila Nova Conceição SP.

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