Na época em que olhávamos tão serenamente para o relógio da existência, em 13 de agosto de 1985, o casal Cris e Zinho resolveu presentear de forma especial o amigo Sérgio, que completava 25 anos de casado. Segundo a tradição da cerimônia, o presente para Bodas deve ter prata ou ouro, dependendo do que se comemora.
A lembrança entregue com carinho pelos amigos era muito mais valiosa que qualquer objeto sofisticado. O primeiro trabalho de uma turma irreverente, que agregou graça à polêmica e paixão à rebeldia da época, e ocupou o melhor lugar do berço do rock nacional por toda a geração: “Nós Vamos Invadir sua Praia”, do Ultraje a Rigor. O álbum de estreia da banda – o melhor de rock de todos os tempos -, lançado em 1985 pela gravadora WEA, foi vencedor do disco de platina.
As lembranças marcadas no coração não são efêmeras. Ainda mais quando carregam ao longo do tempo o encanto e a vibração dos riffs de guitarra e dos toques de bateria. Foi o que pensei mais de 30 anos depois, precisamente no dia 7 de junho de 2016, quando me peguei olhando fixamente para a capa do disco. Fui seduzida em poucos segundos… Meus olhos acionaram um sensor no coração enquanto lia atentamente a dedicatória no presente: “Sérgio. Na expectativa de que não ultrajem teu ouvido e rigor musical, oferecemos-lhe este disco enviando um abração pelas Bodas de Prata. Esperamos estar juntos novamente por ocasião das Bodas de Ouro. Assinado Cris e Zinho”.
O LP foi adquirido por um casal de amigos (Keyla e Lucas), no dia 3 de junho de 2016, na loja Nostalgia, localizada dentro da Galeria do Rock, no centro da capital paulista. Não tenho a mínima ideia por onde andam Sérgio, Cris e Zinho. O presente, talvez audacioso e inovador demais para a situação na época, permite que hoje possamos olhar para os caminhos diferentes que nos levam aos encontros.
O “gostinho” é diferente quando encontramos sem procurar, assim como aconteceu com meus amigos. O sabor da vida muda. Não sei se posso atribuir a palavra coincidência aqui, mas foi um feliz acaso escrever a história. Encontrei sem procurar. E minha vida ganhou outro sabor também. Reencontrei. Só não tenho o nome do disco. Não sei qual música vai tocar.
E ainda há sons que limitam distâncias para os encontros especiais, como com o amigo ou o amor da nossa vida. É sábio admitir o “eu não consigo ouvir. Está muito longe”. Os dois serviriam, mesmo que fosse um ou outro. Se viessem os dois juntos em um sabor e som, melhor. Eu gostaria de ter a mesma sorte do Sérgio e sua esposa. Chegar aos 25 anos de felicidade, ganhar o disco top do Ultraje a Rigor e mais de 30 anos depois surgir pessoas que dão vida à velha história.
A cada dia atribuímos o som e o sabor que queremos dar para a vida. Meu pai diz a todo mundo que a minha é uma festa. Será? Hoje já não olho tão serenamente para o meu relógio da existência. Ele pode parar. O de todo mundo pode. Minha vida não é uma festa. Só seleciono boas trilhas sonoras e com sabores especiais.
Aos amigos Keyla e Lucas, obrigada.
Ao Ultraje a Rigor, vida longa. Sucesso!
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Patrícia Pasquini, jornalista, radialista, blogueira, palmeirense, aquariana, apimentada, filha, irmã, tia, prima. Escreve quinzenalmente, às quintas, para o Portal Vila Nova Conceição SP.
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