O vegetarianismo na infância não deve ser mais um tabu.
O vegetarianismo tem se tornado uma opção alimentar cada vez mais buscada em nossa sociedade.
Diversas instituições internacionais reconhecem os benefícios que ela traz para a nossa saúde, especialmente para as crianças em qualquer fase do desenvolvimento infantil – incluindo na gestação do bebê.
De acordo com a Dra Patrícia Consorte, pediatra com consultório no Itaim Bibi, mesmo diante de muitos mitos e pré-conceitos que ainda cercam o vegetarianismo na infância, é importante quebrar tais paradigmas para os pais que cogitam seguir essa qualidade nutricional, uma vez que é possível sim prover uma alimentação saudável às crianças mesmo sem a presença de alimentos de origem animal.
Iniciar uma dieta vegetariana não é fácil ou simples. A retirada da carne, ovos, leite e derivados requer uma substituição adequada dos minerais e vitaminas presentes nestes alimentos, com opções variadas e, principalmente, in natura para uma boa adequação. Por mais difícil que muitos acreditem ser, tais mudanças podem ser aplicadas tranquilamente na rotina alimentar de todos, especialmente dos pequenos.
No Brasil, cerca de 14% da população se considera vegetariana, de acordo com dados do IBOPE Inteligência – e, a cada ano, vemos cada vez mais pessoas se interessando por este hábito devido a seus inúmeros benefícios para a saúde.
Dentre eles, o maior consumo de frutas, verduras e hortaliças contribui para a geração de uma microbiota intestinal mais saudável, reduzindo riscos de sobrepeso, obesidade no futuro e, até mesmo, desenvolvimento de certas alergias alimentares, respiratórias e doenças autoimunes. São diversas vantagens que, para serem adquiridas, necessitam de um acompanhamento próximo de um nutricionista para a elaboração de um cardápio adequado – especialmente para garantir um bom crescimento das crianças.
A Dra explica que a regra de ouro para os pais que iniciam uma dieta vegetariana junto com seus filhos é evitar, ao máximo, alimentos ultra processados, dando preferência por opções naturais e variadas.
O único nutriente que a dieta vegetariana estrita não é capaz de atingir é a oferta diária adequada de vitamina B12, mas que pode ser suplementada de forma simples em qualquer idade.
Além dele, a oferta de Ômega 3 também deve receber maior atenção e cuidado, uma vez que seu teor é extremamente importante para o desenvolvimento neurológico nos primeiros anos de vida.
Como alternativa, os óleos e sementes de linhaça e chia, assim como diversas nozes, são fontes ricas deste nutriente – melhores até mesmo do que muitos peixes que consumimos, devido aos altos índices de mercúrio, capazes de causar sérias contaminações. Sua suplementação também é possível para atender às necessidades da saúde das crianças, uma vez que temos boas opções nacionais.
Em relação ao consumo do cálcio, os pais também não precisam se preocupar.
“É fato que o leite e seus derivados têm uma quantidade maior desse nutriente – porém, sua biodisponibilidade é pior do que nas fontes vegetarianas. Vegetais verdes escuros, gergelim, chia, linhaça, feijão branco, dentre outros, são extremamente ricos em cálcio e devem estar presentes na dieta das crianças. Como o estômago dos bebês são menores no primeiro ano de vida, o aleitamento materno é um dos principais apoios como fonte de cálcio, assim como em toda nutrição dos pequenos no primeiro ano de vida.“
A composição do leite materno de mães vegetarianas é idêntica ao das não vegetarianas. É importante que ele contenha vitaminas A, D, K e C, e, se não tiver, é necessário suplementar.
Para aquelas que estão impossibilitadas de seguir com o aleitamento, as opções de fórmula ideais são à base de arroz e leite de soja – ambas seguras e nutricionalmente adequadas para a infância.
Apesar de estudos que mostram segurança e adequação nutricional, o leite de soja é orientado pela Sociedade Brasileira de Pediatria a partir dos 6 meses, já leites vegetais só devem ser consumidos a partir dos 2 anos.
O vegetarianismo na infância não deve ser mais um tabu, explica a médica.
“Crianças a partir dos seis meses de idade podem ser introduzidas à essa dieta sem nenhum prejuízo à sua saúde, desde que sejam acompanhadas de perto por seu pediatra, a fim de ajustar o cardápio conforme cada caso. A própria Sociedade Vegetariana Brasileira lançou um guia completo para orientação nutricional de crianças vegetarianas, para auxiliar todos que desejam iniciar esse hábito. O desenvolvimento dos pequenos pode ser incrivelmente beneficiado com essa linha alimentar, basta que ingiram as opções adequadas para que não tenham déficit de nenhuma vitamina ou mineral essencial para seu crescimento.”
A regra de ouro para qualquer alimentação saudável não muda: sempre oferte alimentos de verdade, evitando açúcar e ultraprocessados. Finaliza a Dra.
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