Outlets têm nova onda de investimentos no Brasil. País chega a 17 empreendimentos, sendo nove em São Paulo, com um mix de serviços cada vez mais voltados ao entretenimento e à gastronomia.
Presente no Brasil há 15 anos, o modelo de negócio dos outlets conquista cada vez mais os consumidores e, principalmente, a indústria. O país tem 17 outlets, que abrigam cerca de 1.400 lojas, e há diversos outros projetos previstos para os próximos anos.
Segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), nove desses empreendimentos estão na região Sudeste, quatro no Sul, três no Nordeste e um no Centro-Oeste. Esses centros de compras oferecem toda a comodidade de um shopping center e permitem que os fabricantes vendam diretamente aos consumidores com descontos de até 80%.
Trata-se de um tipo de empreendimento novo no Brasil. Para efeito de comparação, o país tem 639 shopping centers, segundo a Abrasce, sendo que 30% deles ficam no estado de São Paulo.
Muito famosos nos Estados Unidos, os outlets tentaram uma mal sucedida implementação no Brasil nos anos de 1990. Agora, a indústria de shoppings volta a olhar para este segmento com mais força, embalada pelo desenvolvimento e crescimento do varejo no país, pela chegada de muitas marcas internacionais e pelo poder de compra da classe média.
O fato é que os outlets são fenômenos em vendas e geram empregos na região em que estão localizados. Assim como os shoppings tradicionais, oferecem experiências aos clientes e funcionam como opção de passeio para a família, agregados a entretenimento e gastronomia.
Segundo Luiz Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls, o conceito de outlet no Brasil é diferente dos EUA. “Lá, os outlets são MFOs (made for outlets), ou seja, entre 60% e 80% dos produtos são feitos exclusivamente para este segmento. Já no Brasil, a maioria das lojas que opera em outlets utiliza estoque de coleções passadas. E esse é o maior desafio no Brasil: catequizar os lojistas e a indústria”, ressalta.
Ele explica que, nos últimos anos, já não vemos tanto aquelas grandes liquidações de coleções de inverno e verão das marcas porque as lojas fazem ofertas o ano inteiro. “Isso atrapalhou um pouco o crescimento dos outlets no Brasil nos últimos 20 anos porque desestimulava as pessoas a irem a outlets já que elas poderiam comprar perto de casa. Agora, com mais investimentos da indústria, os outlets estão se tropicalizando, agregando serviços, gastronomia, entretenimento, mesclando marcas para ter lojas realmente de descontos e outras de full price (preço cheio)”, avalia Marinho.
Ele cita como exemplo de empreendimento híbrido o Shopping Light, no Centro da capital paulista, onde há lojas âncoras da Nike, Adidas e Puma, além de outros nomes como Lacoste e Vans, que operam totalmente no modelo de outlet. “Acredito que a expansão no Brasil possa partir disso, com modelo híbrido, e não apenas outlet em sua totalidade. É uma forma de convencer a indústria a investir neste ramo”, diz o consultor.
Carro-chefe do empreendimento, os outlets já representam 45% do total de vendas do Shopping Light, que é administrado pela Gazit Brasil. No total, são 15 lojas outlet, mas a expectativa é atrair novas marcas consolidadas até o fim deste ano para reforçar o mix de produtos com preços mais acessíveis.
OUTLET PREMIUM
A General Shopping & Outlets do Brasil (GSOB) foi a primeira empresa do setor que investiu na retomada do mercado de outlets no país, com a inauguração do Outlet Premium São Paulo, em Itupeva, em 2009.
Por questões estratégicas, todas as sete unidades da rede estão localizadas no entorno de importantes capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Fortaleza.
O mais novo empreendimento da empresa foi o Outlet Premium Imigrantes, inaugurado em março de 2024, em São Bernardo do Campo, com um investimento de mais de R$ 200 milhões e previsão de faturamento mensal de até R$ 50 milhões. A empresa também tem o Outlet Premium Grande São Paulo, na rodovia Mogi-Dutra.
O diretor da GSOB, Victor Veronezi, afirma que a companhia espera que o Imigrantes seja a segunda maior operação do grupo no Brasil. “Em termos de tamanho, vai ser certamente o segundo maior, atrás apenas do nosso outlet da rodovia dos Bandeirantes. No entanto, nossa expectativa é que o Outlet Premium Imigrantes tenha o segundo maior ticket médio e que receba cerca de 500 mil pessoas por mês e 6 milhões por ano.”
CATARINA FASHION
A menos de 1 hora da capital, há também outro gigante do segmento, o Catarina Fashion Outlet, em São Roque, da JHSF Malls, que é dona de vários shopping centers.
O empreendimento já passou por três expansões, a mais recente, no fim do ano passado, quando agregou mais de 22 mil m2 de ABL e 155 novas operações, quase dobrando seu tamanho. Agora são 300 lojas à disposição dos consumidores.
Do ponto de vista estratégico, esta terceira expansão veio para reforçar o outlet não apenas como um local de compras, mas também um local para passear. Segundo a JHSF, o Catarina recebe cerca de 3,2 milhões de visitantes por ano.
Entre os principais destaques da terceira expansão está a abertura do Cineflix com quatro salas, novas lojas, mais 10 operações gastronômicas, 16 quiosques e operações de entretenimento, como Altitude Park (parque de camas elásticas) e Roller Fun (pista de patinação).
“Tudo isso vem ao encontro da nossa estratégia de fazer as famílias frequentarem nosso outlet para não somente comprar, mas para passear, se divertir e interagir com a natureza. Além disso, como uma parte significativa dos nossos visitantes são do interior de São Paulo, buscamos trazer as boas experiências locais para dentro do shopping. O visitante encontra um ambiente que oferece uma experiência completa pensando no bem-estar. Em breve, teremos salão de beleza e lava rápido”, afirma Walter Borghi, COO da JHSF Malls. Nos planos da empresa, já se estuda uma quarta expansão.
Cada vez mais, os consumidores estão vendo os outlets como uma referência de compra em uma determinada região. Para Marinho, da Gouvêa, alguns exemplos são o próprio Catarina Fashion e o Porto Belo Outlet, em Santa Catarina. “A gama de serviços é tão grande que aquele centro vira um foco de compras para a cidade, assim como funciona com os shopping centers tradicionais.”
Além da General Shopping e da JHSF, o Iguatemi também está investindo cada vez mais no setor de outlets. A empresa mantém os Fashion Outlet em Novo Hamburgo (RS) e em Tijucas (SC).
Já o Grupo Tacla, do Paraná, tem um plano de investimento de R$ 500 milhões para a expansão de dois outlets que já estão em funcionamento e a construção de um novo shopping center.
PÚBLICO
O maior foco dos outlets é o consumidor das classes B e C. No entanto, segundo Marinho, já vemos um movimento forte para a classe A. Ele defende que montar uma loja em um outlet de luxo é uma ótima oportunidade para uma marca alcançar clientes que nunca foram às suas lojas, principalmente da classe B, mas que usariam a marca desde que pagassem menos por isso. “Esse é muito o perfil das lojas do Catarina, focado em um mix mais de luxo.”
Na última pesquisa realizada pelo Catarina Fashion Outlet, por exemplo, alguns dados curiosos foram encontrados.
“Sabemos que quase metade de quem frequenta o outlet vem do interior de São Paulo e outras regiões e Estados, com o objetivo prioritário de passear. Já a outra metade que vem de São Paulo tem como maior foco comprar. No entanto, o que nos deixa felizes é que, vindo comprar ou passear, a conversão de vendas é acima de 80%, o que reforça nosso foco na oferta, independentemente do motivo da visita, as pessoas compram”, conta Borghi.
Quem vai ao Catarina, normalmente passa 3 horas no local, segundo a JHSF, faz compras e almoça. Com a expansão e a entrada de mais opções de entretenimento – principalmente para crianças –, este tempo deve aumentar.
O diretor de operações de shoppings da JSFH ainda acrescenta que a empresa está sempre atenta àquilo que os clientes gostam e procuram. A escolha do mix segue essa atenta observação do que é desejo, novas marcas, novas experiências e atrações de lazer e gastronomia, sempre alinhado ao que é tendência. “O nosso outlet segue a estratégia da JHSF, que é ter sempre o mix de marcas internacionais forte, diferenciado e com muitas marcas exclusivas”, finaliza Borghi.
Fonte: Diário do comércio
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