março 16, 2024 5:36 PM

Search
Close this search box.

“A gente só conhece bem as coisas que cativou” – disse a raposa.

– Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!” (O Pequeno Príncipe).

Uma das formas mais bonitas de encarar os sentimentos e a amizade vem do coração do escritor, ilustrador e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, que em 1943 publicou a obra O Pequeno Príncipe. Ao contrário da década de 40, a amizade nos tempos atuais perdeu o encanto e incorporou o conceito de efêmero.

Com a chegada das redes sociais, além de efêmera, de certa forma, a amizade também foi banalizada. Sim, não dá para generalizar! Reflita. Qual a diferença entre você, um dançarino de Tango, o motorista do ônibus da pracinha de uma cidade do interior e sua vizinha? Nenhuma, se todos tiverem um celular ou um computador com acesso à internet em mãos. Tudo acontece no mundo virtual.

Quando criança, lembro-me de um desenho animado onde todas as noites uma garotinha abria a janela do quarto, pulava para dentro da tela de uma TV e iria a um mundo distante e diferente, onde vivia aventuras com personagens estranhos. Tal história me remete às redes sociais.

Hoje, entramos em aparelhos que nos direcionam a um mundo onde só há príncipes e princesas. Todos são ricos, bonitos e felizes. Ninguém tem problemas e a vida é uma festa. É o espaço desconhecido da psique dos que sofrem da síndrome da falta do Pequeno Príncipe.

É neste mundo onde reina a felicidade que as pessoas conquistam amigos e amores, trocam confidências, discursam sobre a vida, a política e até se gostam e se ofendem. Não há limites ou estes são tênues. Pura fantasia, eu acho. É o trivial, o convencional que não convence.

Sou da década de 40, 50, 60, 70, 80 e 90, época em que a amizade era concreta porque existia a beleza do abstrato. Amizade é abraçar o outro como se tivesse encontrado alguém que sempre procurou. Intenso! Eu vivo de sorrisos. Preciso vê-los. Senti-los. Por isso, não acredito nos sentimentos virtuais. A vida pede sorrisos verdadeiros.

Tenho dois amigos virtuais. Queria olhar nos olhos deles e sorrir com frequência, tocar o ombro quando conversar, apertar a mão, dividir um vinho, fazer piadas…coisas que todos os amigos fazem. Infelizmente, não será possível. A não ser que o acaso resolva ser o amigo travesso e pregue uma peça. Penso que a vida é uma coleção de brincadeiras. Se ela vai sorrir para você ou gargalhar da sua cara, depende de muitos fatores…

Um deles eu encontrei três vezes. Nunca conversamos pessoalmente. Da minha parte, faltou coragem e a timidez atrapalhou. Do lado dele eu não sei o que aconteceu. A última das vezes – e não nos encontramos por acaso – foi uma tragédia, porque ele me olhou com a mesma cara que o Lula faria se encontrasse o japonês da Federal e o juiz Sérgio Moro juntos, no cinema. Imaginem! Terrível!

A primeira pergunta que veio à minha cabeça foi: “O que eu tenho de diferente e ruim em relação às outras pessoas estranhas que o encontram e tudo bem”? Fiquei chateada, mas optei pelo bom senso. Eu me afastei durante meses das redes sociais do amigo virtual até tentar entender a situação e ter capacidade de julgar se foi uma atitude maledicente. Cheguei à conclusão que não. Hoje, tudo flui muito bem, mas superficialmente e sem o meu atestado de credibilidade porque estamos nas redes sociais.

Os dois amigos virtuais eu tiraria das redes e traria para a vida, mas isso é um assunto para o destino. Tem que estar escrito e marcado. Toda taça de vinho tem nomes, sobrenomes, datas, locais e tempo para acontecer. O mesmo vale para a piada e as conversas desinteressadas.

“O essencial é invisível aos olhos e só se pode ver com o coração”, diria o Pequeno Príncipe se pudesse me dar um conselho.

A vida segue…

Leia também:

O retrato do sex appeal
Músicas que marcam vidas
Algo sobre a vida…

Paty Pasquini

Patrícia Pasquini, jornalista, radialista, blogueira, palmeirense, aquariana, apimentada, filha, irmã, tia, prima. Escreve quinzenalmente, às quintas, para o Portal Vila Nova Conceição SP.

Deixe um comentário

Pular para o conteúdo