abril 13, 2024 5:16 PM

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Primeiro filme que tem direção e roteiro de Alexandre Stockler (Na Selva das Cidades, Um Homem é um Homem, O Mendigo ou o cachorro morto). Um diretor de teatro que foi muito feliz em se entregar ao cinema.

Um grito a sociedade “Cama de Gato” foi feito para chocar, em meio a tantos movimentos sobre a violência contra a mulher, este filme veio agregar o tema. O longa-metragem de estreia do diretor segue alguns preceitos do movimento fílmico dinamarquês Dogma 95, mas, numa linguagem tupiniquim o diretor paulista batizou de “Manifesto Trauma”.

Assim como Lars von Trier, um dos criadores do Dogma, Stockler deixa a câmera trêmula, corrida, nas mãos; a condição de luz é natural, imperfeita e algumas vezes escura envolvida por ambientes fechados. Cama de gato foi uma película produzida em vídeo digital com algumas sequencias em celuloide, atores e equipe técnica não cobraram cachê.

 

filmes e series vila nova conceicao spEntre as personagens estão Cristiano (Caio Blat), Chico (Rodrigo Bolzan), Gabriel (Cainan Baladez) três amigos inseparáveis que se envolvem numa espiral de violência que só tende a aumentar pela completa incapacidade do trio em controlar seus atos e emoções. Querendo somente a diversão pura e simples os 3 amigos imaturos e, achando que o mundo em que vivem não existe punição saem pelas ruas de São Paulo brincando e infringindo leis.

Cristiano recebe em sua casa a visita de uma colega, com quem diabolicamente planeja se divertir. Sem que ela saiba que seus dois amigos estão escondidos e se apresentarão para uma “transa” a 4 quando ela menos esperar. Mas, a moça ao vê-los não concorda e acaba sendo estuprada pelos rapazes. Eles perdem o controle da situação e, ao final, percebem que ela está inconsciente.

O filme é norteado por cenas fortes. Em uma delas o personagem interpretado por Caio Blat faz sexo oral na vítima com um realismo capaz de colocar em dúvida se na longa cena de estupro, praticada por ele e os amigos, houve ou não penetração. Numa mistura de “Assassinos por natureza”, “Os idiotas” e “Laranja mecânica”, os garotos mimados de classe média alta cometem esse crime e se complicam ainda mais ao tentar esconder a autoria.

Logo depois do estupro a mãe de Cristiano chega inesperadamente e o pânico toma conta do filho que tenta impedir que ela suba ao quarto e encontre o corpo da garota. Tragédia pouco é bobagem, a mãe se assusta com a aparição repentina de um deles, tropeça e rola a escada, quebrando o pescoço.

Com dois cadáveres em casa, os desastrados amigos se culpam pelo ocorrido e tentam encontrar uma saída para a situação. Eles querem se livrar dos corpos, apagarem todos os vestígios que os liguem aos crimes, e ainda encontrar um tempinho para ir a uma festa. A história poderia parecer cômica se não fosse tão trágica.

O filme pretende ser uma crítica ao atual estado em que se encontra o país. Forte, chocante, violento, uma tapa na cara de hipócritas que se acham impunes a tudo e a todos, e que em alguns casos é exatamente o que acontece – nada. Preocupante a visão “nada a ver”, “não sou responsável por nada”, “a culpada é da mulher” ou “não é minha culpa” de alguns jovens nos depoimentos colhidos para o filme. Quase 15 anos depois do lançamento do filme o tema ainda é atual, citando a falta de comprometimento com a sociedade e o respeito pelo outro.

Assista preparado, sem neuroses ou preconceitos, coloque um olhar crítico e reflita sobre a vida que nos passa aos olhos todos os dias. A trilha sonora é composta por músicas de bandas desconhecidas e foram selecionadas através de uma campanha pela internet.

lislei carriloLislei Carrilo – Jornalista por formação, cinema é um vício, escritora por paixão, ansiosa por natureza, desastrada de nascença. Vive numa eterna busca…do quê? Quando encontrar te avisa.

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